segunda-feira, 5 de julho de 2010




Lalo Arias: VIDA QUE SEGUE

Permanecerão quietas
as palavras.
Um mundo de silêncio
será pouco.
Cresce
o luto
que nos cerca.
Esta é a flor
em questão:
a que deito
por cima de tuas mãos
cruzadas
sobre o peito,
enquanto me pergunto
o que restará dela
logo depois
que teu rosto estiver
definitivamente coberto




Vinicius de Moraes: Poema de Natal


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.


Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.