segunda-feira, 5 de julho de 2010




Lalo Arias: VIDA QUE SEGUE

Permanecerão quietas
as palavras.
Um mundo de silêncio
será pouco.
Cresce
o luto
que nos cerca.
Esta é a flor
em questão:
a que deito
por cima de tuas mãos
cruzadas
sobre o peito,
enquanto me pergunto
o que restará dela
logo depois
que teu rosto estiver
definitivamente coberto




Vinicius de Moraes: Poema de Natal


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.


Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.




4 comentários:

Unknown disse...

"Para isso fomos feitos".

Anônimo disse...

Hola, Nilo! Até hoje sem ninguém dar trela pro que escrevo lembrei de voce, um dos poucos que comentou comigo sobre meus textos. Continuoo escrevendo pras paredes. Vem me ver. abs porguikas.blogspot.com

Nilo Oliveira disse...

Pelo que li no teu blog, sorte das paredes, Mariana. Continua firme, escrevendo sempre. Com ou sem interlocutores (que as vezes até atrapalham) é tudo o que a gente pode fazer. Beijo.

Anônimo disse...

bjo!