Samba pras Fadinha
Eu e o João, na porta do Caiçara, depois de encarar uma dobradinha
Um samba composto por mim e pelo Joãozinho Batista. A gente chamava de “fadinhas” essas adolescentes de corpo esguio e nariz empinado, que assombravam nossa imaginação de velhos tarados com seu passo elegante, de potrinhas de raça, e a dissimulada carinha de até-empresto-mas-não-dou (eu devia ter uns vinte e poucos anos na época e o João, não mais de trinta. Mas a gente já se achava velho. Uma vantagem: hoje posso dizer que apenas coincidimos com a cara – e com a tara senil – que sempre imaginamos ter).
Começava com uma bossa nova, adagio, ma non troppo:
Fecha os olhos, fadinha, fecha
Que eu quero te dar uma flor
Não dessas feitas de pétalas
Que cheiram sem ter sabor
A flor que eu vou te dar
Será bem mais saborosa
Macia e cor de rosa
Pra em tuas mãos desabrochar
Uma flor que cresce à míngua
E em teu colo, que delícia,
Um dia irei plantar...
(O ritmo mudava – allegro, molto vivace – e o samba comia):
Foi no meio da orgia
Duas noites sem dormir
Que baixou a pomba-gira
Do sambar até cair
E do corpo das morena
Exalava perdição
Cheguei na boca de cena:
‘E as fadinha, hein, João?’
(No breque, o Joãosinho fazia um bico obsceno e afirmava, com muita propriedade, inteligência e verdade cênica: “UUUh!”)
E a boca molhadinha das fadinha
E o cheiro adolescente das fadinha
E os peitinho que cabe inteirinho na mão
E as fadinha, hein, João
E as fadinha, hein, João
(ad infinitum)
Na época, pensamos em vender esta pérola do cancioneiro pra algum grupo de pagode. Ainda estamos abertos a negociações. Aos interessados, favor deixar contato.
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