ao meu pai.
deslizo da cama
desço à calçada
e só lá embaixo percebo
que esqueci os sapatos
as meias logo se encharcam
da chuva recente
e um sentimento sem nome
me obriga a continuar
visito mercados
botecos
lojas de conveniência
e logo saio
sem pedir nada
sinto a sujeira
grossa
de toda a cidade
endurecendo nas solas
as pontinhas geladas
do asfalto
ao atravessar cada rua
até que os cascalhos e a grama
de um parque da infância
me mostram que é outra cidade
que o tempo é outro
anterior a mim mesmo
e começo chorar
pela certeza de que vou encontrá-lo
a certeza absoluta
de que vou encontrá-lo
como no tempo
em que estava vivo.
6 comentários:
Taí... Gostei !!!
Como "gostaste"? Não tem nem mulher pelada! Abraço.
Porra, Nilo, é sempre difícil poetar sobre o pai morto. Mas seu poema é fodido.
Tentei dois ou tres poemas com esse assunto para meu próximo livro. Mas sempre acho que fica um nó demasiadamente apertado e muitas palavras faltando...
Assuntos como este a gente tem que tratar de forma indireta. Por si mesmo é uma grande lacuna, sem remédio possível. Uma forma de abordá-la seria, por exemplo, falar das próprias meias...
Tomei a liberdade de postar este teu poema no meu blog, é claro que na coluna da esquerda, aquela dos mais e melhores blues.
grande abraço
Fico muito honrado. Abraço.
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