Aldir Blanc: 

Histórias da Zona Norte

(...)

Na galeria das primas inesquecíveis, Gregório Barrios ao fundo, destacava-se Dorinda. Protestante. Estrábica. O mais bonito em mulher com discreto estrabismo é que parece estar sempre à beira do orgasmo.

Em Dorinda, a suave mistura entre recato e cara de vou-gozar me enlouquecia. E, além do mais, ela ostentava um pequeno buço. Eu ficava repetindo antes de dormir: o buço da prima, o buço de Dorinda... De fato, buço é uma palavra que provoca tresloucadas associações.

(...)

*

Guinga me contou a última de hoje:

Zé Bode, não por coincidência morador da... Penha!, resolveu dar aula de educação sexual pros netos. Foi uma falação louca, entremeada de termos técnicos como "barquete" e "gualibão". As crianças adoraram. A primeira aula teria sido um êxito retumbante se um dos meninos não tivesse criado caso:

- E a Roberta Close?

Zé Bode armou a retranca:

- Que qui tem?

- Dizem que era homem, fez uma operação e virou mulher.

Zé Bode continuou de líbero:

- E daí?

O menino aplicou uma sucessão de dribles de fazer inveja ao Bebeto:

- Bom, é mulher agora, mas também não era. Não é mais homem, mas antes também não era...

Zé Bode se encrespou:

- Era homem, tinha tarugo.

- Mas não usava!

Diante de um impasse, o jeito é apelar pro cientificismo. Zé Bode não vendeu barato:

- A genitrolha não é de somenos dada a circunstância, ainda que hipotética, do descabelamento do palhaço. Outrossim, não se apresentava, logo abaixo do bombril, a perseguida. Muito pelo contrário, delineava-se ali, ainda que modesto, o cipó de aroeira.

A classe aplaudiu tamanha erudição, mas o menino tinha uma derradeira dúvida:

- Ela transa por onde?

Zé Bode, cauteloso:

- Aparada a genitrolha, constituiu-se a genibrenha. É por ali.

- E antes?

- Antes o quê, porra?

- Antes, ora essa. Como é que ele, ou ela, fazia a coisa?

Com um suspiro de resignação, Zé Bode revelou o segredo:

- Através das partes caganentais.

(Do livro "O Brasil Passado a Sujo - A Trajetória de uma Porrada de Farsantes".)