sábado, 4 de junho de 2011

Isaac
Michelangelo Caravaggio: "O Sacrifício de Isaac"

"Então disse Isaac a seu pai: 'Meu pai.' E Abraão respondeu: 'Sim, meu filho.' 'Eis o fogo e a lenha' - retornou Isaac - 'mas onde está o cordeiro para o holocausto?'"

Um dos diálogos mais comoventes já registrados num livro. De certa forma, um pequeno resumo da condição humana.

Isaac antes trabalhou. Colheu os gravetos. Fez o fogo. Quem sabe até arrumou, inocente, a lâmina da maneira correta ao lado do altar.

No fim era só um teste. Uma espécie de pegadinha pra resolver uma questão entre seu pai e Deus, da qual ele participava apenas como coadjuvante.

O que terá passado pela cabeça de Isaac segundos antes da intervenção do anjo?

Um trecho do livro que escrevi, diz o seguinte: "A infância é uma existência à rés do chão, em que se é agraciado com a total ignorância da morte. Quando a gente sabe da morte, a infância termina - e começa um longo período dedicado à espera ou a uma desesperada tentativa de esquecimento."

É. Tudo, no fim, não passava de uma brincadeira de mau gosto.

Até não ser.

Saber a morte é mais que apenas entender seu significado. Algo que dilacera e, ao mesmo tempo, liberta.

E nem sempre são os mais fortes que sobrevivem ao coincidir com essa única e absoluta verdade.



5 comentários:

Anônimo disse...

Isaac deve ter derramado a lágrima típica dos cordeiros antes do sacrifício: de quem nao pode escolher nem pela própria inocência. Béééé´ ou ... Agnus Dei, Nilo. Abraço, MM

Nilo Oliveira disse...

De vez em quando não se pode escolher, Mirisola. O que diferencia uma pessoa da outra é o que ela faz com isso depois. Pro bem e pro mal. Abraço.

Anônimo disse...

ei! tudo bem por ai? que cenário, hein...não penso que eh possível entender o significado da morte, muito menos o da vida. saudades, polegarzinha.

Nilo Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nilo Oliveira disse...

Da vida, concordo contigo. Mas da morte, pra quem não acredita no além, fica fácil (o que não quer dizer que seja tranquilo). Beijo.