quarta-feira, 1 de junho de 2011

Porque "um homem nunca recuperou uma mulher 
por pedir de joelhos..."

... da mesma forma que um homem que nunca ficou de joelhos por uma mulher pode ser considerado um pouco menos homem.

Leonard Cohen: I'm Your Man
(com o brinde luxoso de "A Thousand Kisses Deep")



If you want a lover
I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
I'm your man
If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
I'll examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
I'm your man
Ah, the moon's too bright
The chain's too tight
The beast won't go to sleep
I've been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or I'd crawl to you baby
And I'd fall at your feet
And I'd howl at your beauty
Like a dog in heat
And I'd claw at your heart
And I'd tear at your sheet
I'd say please, please
I'm your man
And if you've got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
I'm your man
If you want a lover
I'll do anything that you ask me to
And if you want another kind of love
I'll wear a mask for you

Sou Teu Homem

Se quiseres um amante/ Eu farei tudo o que tu me pedires/ E se
quiseres outro tipo de amor/ Eu usarei uma máscara por ti/ Se quiseres um parceiro/ Pega minha mão/ Ou se quiseres me derrubar de raiva/ Aqui estou eu/ Eu sou o teu homem

Se quiseres um pugilista/ Eu entrarei no ringue por ti/ E se quiseres um médico/ Eu examinarei cada centímetro teu/ Se quiseres um motorista, é só entrar/ Ou se quiseres me levar pra dar um passeio/ Tu sabes que pode/ Eu sou o teu homem

Ah, a lua brilha demais/ A corrente está apertada demais/ A besta não vai adormecer/ Tenho recordado/ Estas promessas/ Que fiz e não pude cumprir/ Mas um homem nunca recuperou uma mulher/ Por pedir de joelhos/ Ou eu rastejaria pra ti, querida/ E cairia aos teus pés/ E uivaria à tua beleza/ Como um cão no cio/ E me agarraria ao teu coração/ E choraria nos teus lençóis/ Diria por favor/ Por favor/ Eu sou o teu homem

E se tiver que dormir/ Por instantes na estrada,/ Eu guiarei por ti/ E se quiseres andar na rua, sozinha/ Eu desaparecerei por ti/ Se quiseres um pai pra tua criança/ Ou apenas caminhar um pouco comigo/ Pela areia/ Eu sou o teu homem


Se quiseres um amante/ Eu farei tudo o que tu me pedires/ E se
quiseres outro tipo de amor/ Eu usarei uma máscara por ti

*

Fiquei sabendo hoje que este grande compositor e escritor canadense ganhou, na Espanha, o Prêmio Príncipe das Astúrias das Letras. Concorreu também por sua  obra musical, mas não levou. Quem já se meteu a escrever as duas coisas, sabe (ou devia saber) que letra de música e poesia correspondem a processos completamente diferentes. Mas nas raras vezes em que coincidem - sem que o músico nem o poeta tenham que forçar a barra - é como se ambas voltassem às origens, e algo perfeito, que um dia se partiu, fosse restaurado. Leonard Cohen é romancista e poeta. E, como todo poeta, sabe fazer de vez em quando um verso luzir entre  palavras cotidianas, próximas ao chão, coisa que a música exige pra fluir sem se atrapalhar. O Vinícius de Moraes era outro que fazia isso muito bem. Não conheço direito a obra literária do cara, mas a julgar por algumas das suas letras, me arrisco a afirmar que o prêmio foi merecido.

Na sequência, um dos seus poemas, na tradução de Carlos Besen.


Para o Meu Velho Layton

Ele oculta a sua dor sem dono
em frases de amor
da mesma maneira que um gato esconde as fezes
debaixo das pedras e aparece durante o dia,
arrogante, limpo, rápido, disposto
a caçar ou dormir ou a perecer de fome.

A cidade recebe-o com lixo
que ele interpreta como um elogio
a sua musculatura. Cascas de laranja,
latas, tripas chovendo como papel de teletipo.
Durante algum tempo ele destruiu as suas noites
com a sua sombra refletida na janela da lua cheia
enquanto espiava a paz da gente vulgar.

Uma vez invejou-os. Agora com um feliz
uivo saltava de monumento em monumento,
penetrava nos seus lugares mais sagrados, ébrio
de saber quão perto vivia dos mortos
debaixo da terra, ébrio de sentir o muito que queria
aos seus irmãos que ressonavam, os velhos e as crianças da cidade.

Até que por fim, cansado como Tímon
do odor humano, ressentindo-se mesmo das suas próprias
pegadas no deserto, dedicou-se a caçar animais, e adornou-se
com braceletes de serpentes vivas e cizânias.
Enquanto a maré decia como uma manta,
ele dormia em cavidades das rochas um sono pesado
sem sonhos, a aragem brilhante do sol
como se fosse um laboratório automático
formando cristais no seu cabelo.


2 comentários:

dade amorim disse...

Ele é maravilhoso, Nilo.

Abraço pra você.

Nilo Oliveira disse...

Pena que ainda é difícil encontrar seus livros por aqui. Mas o Google sempre quebra um galho.... Valeu, Dade. Abraço.