quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Milagre da Concepção


Olhou os próprios pés que apontavam o teto em direções opostas e pensou nos ponteiros de um relógio: quase quinze pras três. Ele lá dentro. Tinha a manha de quase tirar tudo e enfiar de novo, aproveitando a umidade das bordas. Agradeceu à mãe pelas aulas de balé porque o pau tinha escapado e ela quase perdera o controle quando sentiu a esfera relar do cu ao períneo no caminho de volta. O filho da puta não perdia o ritmo. As mãos ocupadas em agarrar sua nuca e cabelos pra que as bocas não se afastassem, a textura mole de respirações misturadas e das palavras sujas, interrompidas. Cadela. Cadelinha puta. O rosto da mãe na platéia, inchado de orgulho. Sabia que não havia mais volta. A larga cicatriz na omoplata - que de vez em quando sentia nas palmas quando estreitava o abraço - tinha sido obra sua. Os olhos dele abertos e fixos rentes aos seus olhos que fugiam ora pra musculatura retesada dos ombros - a ondulação violenta dos quadris em perspectiva entre coxas -, ora para os próprios pés, lá no alto, lassos, que balançavam como se fraturados nos tornozelos. Bom sinal. As coisas estavam sob controle. Podia até simular a cara de tédio que ensaiara desde o último encontro. Quando o pau escapuliu e entrou numa manobra firme, reta, inesperada, relando a parede do útero e turvando seu pensamento feito poça violada por cascos. Cerrou os dentes: a mão em garra, a nuca que se desfazia entre os dedos - os quadris agora desabavam contra as virilhas num movimento duro e acelerado (impossível não pensar na palavra "surra"). Enlaçou a cintura  dele com as pernas e ameaçou, como se cuspisse, Vou te meter um filho, ao que ele respondeu, com doçura: Azar o teu - e gozou.

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