quinta-feira, 28 de julho de 2011


(à memória de A. Winehouse, M. Jackson & C. Cobain)


A morte de um popstar não causa mais impacto, porque eles já não morrem: antes se desmancham até sumir, viram piada, agonizam no centro de um picadeiro cercado de celulares e queixos empinados pra ver a cena através de um visor de cristal líquido - porque o mundo também já não é algo que se olha de frente: antes é armazenado em chips e pen-drives pra ser "curtido" depois. Amy Winehouse morreu de causas sobrenaturais, uma criança desceu o morro fugindo do tiroteio de milicianos e acabou voando pelos ares ao pisar no asfalto junto com uma tampa de bueiro, um gato sobreviveu a um ciclo de enxague dentro de uma máquina de lavar, o último índio foi enforcado na última árvore com as tripas da última onça-pintada, a Sandy afirmou numa entrevista pra Playboy (e depois, de maneira um tanto redundante, "voltou atrás") que "o prazer anal/ até pode ser legal" - e tudo dá na mesma: pra que perder tempo refletindo, remoendo notícias e informações, se todas as coisas do mundo estarão eternamente disponíveis (apesar de raramente acessadas) neste grande HD externo onde o tudo e o nada se nivelam na mesma falta de importância?

"A Fila Anda": taí o epitáfio ideal pra uma geração condenada ao esquecimento por excesso de memória. 


6 comentários:

Anônimo disse...

Tá difícil viver dentro dessa babaquice. Fazer o quê? Curti!
Abraço,
MM

Paulino Júnior disse...

Pô, Nilo, de vez em quando você acerta, hein!? (risos) Muito bom! Se eu tivesse os fãs da dita cuja eu também me mataria.
Abraço!

Nilo Oliveira disse...

Eu não me considero "dentro" dela, Mirisola. Só coincido com ela de vez em quando... Abraço.

Nilo Oliveira disse...

Coitada da menina, Paulino. Eu achava ela bonita e gostava da voz - porque sempre que tocava uma música dela, eu corria pra ouvir Etta James. Uma vítima desses tempos de "releituras": nem pra morrer conseguiu ser original. Não teve tempo nem pra ter futuro... Abraço.

Paulino Júnior disse...

Concordo com você pelas mesmas razões, mas é como diria o Cioran sobre a "consagração ser uma das piores punições" (neste caso uma consagração midiática). Ou seja,tornou-se impossível declarar ser um ouvinte dela sem engrossar o coral de seus "admiradores".
Abraço.

Nilo Oliveira disse...

Ela morreu disto: o oba-oba fez com que ela apodrecesse antes de amadurecer. O Cioran é um profeta.