segunda-feira, 16 de maio de 2011



Corpos celestes,  naves espaciais ou - a julgar pela indiscreta ereção dos aborígenes - uma representação celestial daquele lugar aconchegante e misterioso, de onde todos saímos e pra onde muitos passam a vida inteira tentando voltar? 


O que esses desenhos representam, confesso que não sei. Vi recentemente no Discovery Channel uns ufólogos vociferando em torno delas, acometidos de espasmos e orgasmos múltiplos. Podem ser pura ficção: apenas um relato sobrevivente dos primeiros autores de ficção científica da (pré) história. Se daqui a uns milhares de anos tudo o que sobrar da nossa civilização forem uns fragmentos do H.G. Wells, será que alguns malucos do futuro não acreditarão que seus ancestrais realizavam viagens no tempo? Mesmo porque, forçando um pouco a barra, nossos antepassados das cavernas já pareciam cultivar diversos gêneros literários.

Histórias de aventura, compostas por lanças, bisões e mamutes. Representações do corpo da mulher, que podem ter sido tanto poemas e orações em homenagem à deusa da fertilidade, quanto as primeiras obras pornográficas de que se tem notícia.

Pode também ser um caso ancestral de bullying: vai que tivesse um troglodita de olhos saltados e cabeça grande demais, e os colegas fizessem essas pichações pra tirar um sarro da cara dele...

Seja qual for seu significado, o que eu acho bonito nessas pinturas é o impulso que levou esses colegas anônimos a não se contentarem apenas em vivenciar as coisas, mas também registrá-las. Seja pra dividir com os outros, seja por uma motivação íntima e solitária - o fato é que as pinturas estão aí, como qualquer obra de arte que se preze, ganhando novos significados, embaralhando explicações e fundindo a cabeça dos indefectíveis e eternos "especialistas".

Segundo algumas teorias antropológicas (o mundo está cheio delas...), tanto as pinturas rupestres, quanto a idéia da vida após a morte encontram suas origens no sonho. Até faz sentido. Se partirmos do pressuposto de que a zona cortical - a camada mais fina e superficial do nosso cérebro, responsável pelo pensamento abstrato, que serve de base ao raciocínio - foi a última a se delinear em toda a sua complexidade, podemos supor que os primeiros hominídeos se embananassem um pouco ao buscar explicações sobre aquilo que vivenciavam, não conseguindo, entre outras coisas, diferenciar o vivido e o sonhado. 

Um companheiro morria. Na noite seguinte, alguém falava com ele num sonho. Logo, o sujeito não podia estar morto de verdade - ou, no mínimo, estava vivo em algum outro lugar. Por isto o antigo costume de enterrar o defunto com armas e provisões: se ele por acaso acordasse, teria como matar a fome e sair pra caçar.

Ainda segundo essa teoria, também as pinturas rupestres não seriam apenas representações de algo que aconteceu, mas poderiam ser tanto maneiras de concretizar algo que foi sonhado, quanto parte de  um ritual que ocorria antes de caçadas ou batalhas, como forma de favorecer a realização de um fato da maneira como eles gostariam que esse fato ocorresse.

Palavras, palavras, palavras... Mallarmé já afirmou que tanto faz se fato ou ficção: "tudo existe pra acabar num livro". Ou, em tempos remotos, nas paredes de uma caverna. Ou num blogue perdido no meio desta suruba virtual de palavras e imagens, que no fundo só serve pra satisfazer o impulso quase masturbatório daquele que escreve. 


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