domingo, 29 de maio de 2011

Um Pouco de Nostalgia 
da Terrinha

"Se a bala vier por baixo, nós pulemo! Se a bala vier por cima, nós se agachemo! E se a bala vier pelo meio... daí nós vemo!" 


(Honório Lemes, o "Leão do Caverá", comandande de tropas voluntárias em três revoluções Rio-Grandenses - 1893, 1923 e 1927 - discursando para os soldados antes da peleia).


Sabe Moço
(Francisco Alves)

Sabe, moço
Que no meio do alvoroço
Tive um lenço no pescoço
Que foi bandeira pra mim
Que andei mil peleias
Em lutas brutas e feias
Desde o começo até o fim
Sabe, moço
Depois das revoluções
Vi esbanjarem brasões
Pra caudilhos coronéis
Vi cintilarem anéis
Assinatura em papéis
Honrarias para heróis
É duro, moço
Olhar agora pra história
E ver páginas de glórias
E retratos de imortais
Sabe, moço
Fui guerreiro como tantos
Que andaram nos quatro cantos
Sempre seguindo um clarim
E o que restou?
Ah, sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas
Foi o que sobrou pra mim

*

"Eu lhe prometo que trarei boas notícias quando eu voltar
Se eu não voltar, as boas notícias estarão lá
Se pelo acaso as boas notícias 
Não encontrar você
Daí fudeu...
Daí fudeu..."

(Wander Wildner, precursor do punk rock Rio-Grandense)


Amigo Punk

Genial este clip. Em 83, eu morava em Santa Maria da Boca do Monte, e tinha recém descoberto o que depois ficou conhecido como Heavy Metal. Nos reuníamos num prédio que ficava no centro, ao lado do Cine Glória, e ouvíamos as raridades que o Chambinho - o rockeiro-mór da cidade - tinha trazido dos EUA. É. O apelido dele era Chambinho. E passava semanas com a mesma camiseta do "Born Again", o clássico disco do Black Sabbath vocalizado pelo Ian Gillan (ex Deep Purple), onde um bebê-demônio parecia que tinha acabado de emergir de uma das cloacas mais profundas e apertadas do inferno. Não posso dizer que foram bons tempos. É que não havia absolutamente NADA melhor pra gente fazer. Com mais um ou dois edifícios em volta, a desolação era exatamente essa vivenciada pelo guri do vídeo-clip, dentro e fora da gente. Depois, já morando em Porto Alegre, acompanhei (do meu canto, como sempre) o surgimento do novo rock gaúcho. Mas daí já é outra história. O que posso dizer é que a experiência do pampa é algo que sempre deixa suas marcas em quem a viveu. E, seja nos floreios de uma cordeona ou em riffs de guitarra - é a milonga a música que melhor traduz a monotonia dos horizontes devassados e a revolta engasgada, antiga, atravessada no peito, que sustentam esse sentimento. Um troço difícil de explicar. Como sempre acontece quando uma música se mistura com um tipo específico de emoção, evocando-a numa só porrada, mas sem a pretensão de traduzi-la. Acho que este é um dos raros casos em que a palavra "magia" ainda pode ser utilizada sem que se caia no ridículo.


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