domingo, 1 de maio de 2011



Marcelo Montenegro*: Poema Estatístico

Tem uma esquina prenha de um latido.
Trechos de pássaros que permanecem
nos muros que ficam. E vice-versa.
Um e-mail anotado às pressas no canhoto do tintureiro.
A cirrose portátil. A síndrome do pânico.
O enroladinho de presunto e queijo.

Tem a Mulher mais Linda da Cidade.
Groupies de cabelo rosa. Poodles
da solidariedade. Alguém chorando lágrimas
de tubaína. Penélopes Charmosas.
Dick Vigaristas. Um cara que já sai desviando
do cinema del arte, evitando ser atingido
por alguma conversa perdida.

Tem a mulher da vídeo-locadora
que não conhece o filme que estou procurando.
Um amigo que diz que escreve só para colocar epígrafes.
Taxistas infláveis. Manicures em chamas.
Um casal que desce a rua na banguela
prolongando a gasolina daquilo tudo
que um dia fora. Eu ando apaixonado
pela mulher da vídeo-locadora.
Lendo revistas na sala de espera
do consultório dentário. Tem uma
que venta. E um que desiste.
De arranhar os vidros do aquário.





* Marcelo Montenegro é poeta, autor do livro "Orfanato Portátil", cineasta, torcedor do Santos F.C. e Cavaleiro juramentado da extinta (sim, sequestraram o tigre da entrada do postinho...) Ordem Noturna do Cu do Tigre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nao fosse a fixacao no tigre,e torcedor do Santos,o Marcelo era "o cara"!...gostei dele!.

Simoni

Nilo Oliveira disse...

O Marcelo é um grande cara e um grande poeta, Simone. Quanto a obscura Ordem do Tigre... Trata-se de um assunto sobre o qual não posso entrar em detalhes: também estou sob juramento.